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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Se fosse vivo ainda, Barbosa Lessa estaria completando 88 anos

Ainda acho que ele partiu muito cedo. Meu amigo Luiz Carlos Barbosa Lessa, folclorista, músico, escritor, advogado e historiador partiu naquele 11 de março de 2002, precocemente.

BARBOSA LESSA o multimídia do Sul do Brasil

             Luiz Carlos Barbosa Lessa foi um autor/artista múltiplo e inigualável, Este grande nome da cultura gaúcha nasceu em 13 de dezembro de 1929, numa chácara nas imediações da histórica vila de Piratini (capital farroupilha). Sua mãe ensinou-lhe as primeiras letras e as quatro operações, e ainda teoria musical, um pouco de piano e uma grande novidade da época: datilografia.

             Durante o curso ginasial na cidade de Pelotas (Ginásio Gonzaga), aos doze anos de idade fundou um jornalzinho escolar: "O Gonzagueano", e também criou o conjunto-mirim "Os Minuanos". Para cursar o 2º grau colegial transferiu-se para Porto Alegre, ingressando no Colégio Júlio de Castilhos. Aos dezesseis anos passou a colaborar para a revista "Província de São Pedro", e obteve seu primeiro emprego como revisor e repórter da "Revista do Globo".

            No ano seguinte participou da primeira Ronda Crioula/Semana Farroupilha e, munido de um caderno de aula para coletar assinaturas de eventuais interessados em participar da fundação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas, o "35 CTG", no ano de 1948, e que em 2018 registrará 70 anos. Nessa agremiação pioneira ele retomou o interesse pela música regional e, na falta de repertório, foi criando suas primeiras canções, entre elas a eterna toada "Negrinha do Pastoreio".

            No ano de 1952 tornou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Porto Alegre (UFRGS). Nesta época formou com o amigo Paixão Cortes uma abnegada dupla de pesquisadores, que de 1950 a 1952, realizou levantamentos e produziu a recriação das danças tradicionalistas. O resultado da pesquisa foi o livro "Manual de Danças Gaúchas" e o disco "Danças Gaúchas" (o terceiro LP produzido no Brasil), na voz da cantora paulista Inezita Barroso.

            Incentivou a realização do 1º Congresso Tradicionalista do Rio Grande do Sul, levado a efeito na cidade de Santa Maria, em 1954, quando apresentou e viu aprovada sua tese "O sentido e o valor do Tradicionalismo". Em 1956 montou um grupo teatral para apresentação de sua comédia musical "Não te Assusta, Zacaria!" e saiu divulgando a cultura gaúcha pelo Rio Grande a fora.

            Nesse mesmo ano, participou do III Congresso Tradicionalista, em Ijuí, onde conheceu a "prenda" Nilza Gonçalves, que lecionava em São Luiz Gonzaga mas com sua família residindo em Uruguaiana. Já então residia em São Paulo. Em 1959 veio autografar seu romance "Os Guaxos" em Porto Alegre, reencontrou Nilza, viajou a Uruguaiana e pediu a mão da moça, levando-a para a capital paulista. Da união dois filhos: Guilherme, hoje analista de sistemas em Porto Alegre, e Valéria, casada com urn norte-americano e residente no estado de New Jersey - USA.

           Lessa residiu na capital paulista até 1974, envolvido com produção de rádio, televisão, teatro e cinema, mas detendo-se, finalmente, na área de propaganda. Retornou a Porto Alegre, para trabalhar na Mercur Publicidade e depois, na CORSAN. No governo Amaral de Souza foi Secretário Estadual da Cultura, tendo então idealizado a Casa da Cultura Mário Quintana, pré-inaugurada em 1983. Aposentou-se como jornalista, em 1987.

           A partir dai adotou Camaquã onde manteve até sua morte em 11 de março de 2002, uma pequena reserva ecológica chamada Sítio da Água Grande. Com a esposa Nilza, dedicaram-se a produção artesanal de erva-mate e plantas medicinais. Recebeu o título de Cidadão Camaquense, além de ser Patrono de Honra da Casa do Poeta Camaquense -Capocam.

            Barbosa Lessa tem destacado nome na música e literatura. São dezenas de músicas gravadas (incluindo a música das danças recriadas com Paixão Cortes), num total de 62 títulos. Destaque para o clássico "Negrinho do Pastoreio", o batuque afro-riograndense "Bambaquererê", a missioneira "Balseiros do rio Uruguai", a eterna "Quando sopra o minuano - Levanta gaúcho", e o Hino Tradicionalista, gravado por Manoel Camaquã.

            Na literatura, infatigável edição de livros a álbuns, coincidentemente num mesmo total de 62 títulos. Destaque para o romance "Os Guaxos", prêmio nacional de romance 1959, da Academia Brasileira de Letras, os contos de "Rodeio dos Ventos", o ensaio indigenista "Era de Are", a novela policial "O crime é um caso de Marketing", o ensaio histórico "Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo", e os quadrinhos de "Garibaldi Farroupilha". Após sua morte foi lançada a obra "Prezado Amigo Fulano", último livro escrito pelo autor.

           Em 1999, foi agraciado com o título de um dos 20 Gaúchos que marcaram o Século XX, promoção da RBS. No ano 2000 foi escolhido Patrono da 46ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em 2005 após três anos de sua morte foi criada em Camaquã a Associação Amigos da Água Grande, entidade que visa preservar a memória deste grande multimídia do sul do Brasil.

Na imagem, a Revista Lessinha, 
lançada sábado, em Camaquã.
Catullo Fernandes

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